Mudei de canal e, numa daquelas coincidências que só costumam acontecer nos filmes, o Rambo estava a lançar a famosa flecha com a granada agarrada – usou daquela fita-cola forte cinzenta, suponho –, em direcção a um helicóptero dos maus. Lá dentro, um piloto mal encarado esbugalha os olhos e grita um urro mudo qualquer que nós – espectadores – não percebemos, porque sabe que já não vai a tempo. Deve ter lido o script e, para mais, toda a gente sabe que o Rambo não falha. CABUM! Lá se vai mais um Apache para o galheiro!
O piloto do Apache do lado não hesita e lança-se em perseguição do Rambo. Vemos-lhe as mãos atarefadas nos comandos e o esgar sedento de vingança. Entretanto, estas coisas deram tempo ao Rambo e ao amigo de se esgueirarem para uma cova, que afinal – mostra-nos o realizador – dá para uma gruta que apareceu convenientemente por ali. O piloto apressa-se a largar uma carga de napalm para a entrada da gruta e só nessa altura é que o Rambo decide dar corda ao chinelo. Põe nos queixos aquela expressão de urgência masculina que lhe é tão típica (a recorrência destes trejeitos entre filmes ajudam-nos a perceber o que lhe vai na alma em cada cena) e larga numa correria desenfreada até se agarrar a uma corda também convenientemente pendurada para dentro da gruta pelo amigo.
Nisto o napalm escaqueira com tudo à superfície e ameaça envolver o Rambo numa nuvem de labaredas, o Rambo corre, a música fica cada vez mais perigosa, o Rambo com o queixo urgente cada vez mais ao lado, o amigo a chamá-lo, cada vez mais histérico, grande suspense… e, claro, o herói termina a fuga com uma cambalhota clássica, com a qual escapa às chamas sem mazela.
É nesta altura que me ocorre que 1) o Rambo é muito ingénuo; ou 2) o Rambo não cozinha. Então não é que o palerma vem para estas andanças em troco nu?!
Ainda no outro dia tive a ideia estúpida de saltear galinha em tronco nu. Nunca o faço nem costumo armar grande chavascal, mas havia de ser o dia de entornar azeitinho quente sobre a pele.
O resultado não foi o mais agradável e recordei a regra de ouro da cozinha: proteger sempre a pele das potenciais queimaduras. O Rambo devia saber do mesmo, uma vez que o seu trabalho consiste em andar por sítios inóspitos a estoirar tudo pelo caminho. O sacana anda a rebolar pelos cacos do Mundo e regressa ao quartel incólume, mas quando nos toca a nós, deixamos no ar o aroma a bacon flambé. E ainda insiste em enfrentar os inimigos de peitorais ao léu…