#51: 50 posts!

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Wohoo! Going Bitesize reached 50 posts!
This begs for a dance.

(Illustration: Calvin and Hobbes’ dance, by Bill Watterson.)

#48: Serradura criativa

Serradura Criativa

No museu:

 

A: A arte conceptual deve ser apreciada como materialização de um processo crítico ou de um percurso interpretativo de um determinado componente sob reflexão.

B: …

A: O problema é que essa síntese nem sempre é explícita aos olhos do receptor da mensagem.

B: …

A: No fundo, é mais afirmação intelectual que composição estética, ‘tás a ver?

B: Mas aquela peça está cheia de serradura à volta…

A: Nao é serradura, é processo criativo!

 

(Imagem: One and Three Chairs, de Joseph Kosuth.)

#47: Comprido e fino

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De vez em quando encontro pessoas que abusam da expressão “para ser curto e grosso”, em reuniões ou conversas de esquina, o que pode rapidamente tornar-se irritante. Para além de ser uma expressão pateta, quando é incessantemente repetida por pessoas que acham que lhes dá um certo élan de petiscaria de bairro, acaba por se tornar abstrata, como naquele exercício do estranhamento das palavras do Vergílio Ferreira. Só que com menos classe. Sugiro que tentem ser “compridas e finas” por uns dias. Só para variar.

#46: O fim da Internet

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Literalmente. Chegou ao fim da Internet. Por favor volte para trás. Por hoje, acreditamos que é quadrada e plana, portanto pode cair e a coisa fica feia. Amanhã talvez possamos descobrir que é redonda e aí não importa por onde ande.

(Imagem: Gravura de Flammarion.)

#45: Metáfora

Maya carrega sempre as suas compras no compartimento pequenino do carrinho do supermercado. Aquela cadeirinha onde sentamos os bebés, em que quase não se repara e que se tem de abrir para existir. Mas ela repara sempre. Nunca coloca o que quer que seja das suas compras no cesto grande do carrinho. Não sabe bem explicar mas, bem cheia, a parte pequenina transmite-lhe uma sensação de conforto. De controlo. De ter algo cheio. As compras todas soltas na imensidão do carro seriam enervantes, sugerindo baixinho que algo falta, algo ficou esquecido, algures na tua vida qualquer coisa está por acertar.

E Maya havia de passar pelo dia com aquela sensação com que ficamos nos momentos em que nos é devido um descanso, mas que se instala e nos sussurra que algo está errado por não estarmos preocupados ou tensos ou a correr atrás de algo. Como se estivéssemos em falta.

Já basta de pressões. Acha que tem mais em que pensar que nas compras que lhe dizem como organizar a vida. Por isso, traz o carrinho cheio, mas só em parte.

#41: Cereais parciais

A quem quer que esteja a ler, gostava muito de provar cereais de pequeno-almoço parciais: os integrais eu já conheço e acho-os muito saborosos.

P.S.1: Por serem parciais quererá dizer que tomam posições pouco isentas sobre os assuntos da actualidade?

P.S.2: Não, devem mas é ser vendidos às partes. Imagino o slogan: “Cereais cuidadosamente preparados com as melhores metades de grãos de trigo” ou “inclui terçozinhos de aveia”, etcetera.

#40: O Rambo não cozinha

Mudei de canal e, numa daquelas coincidências que só costumam acontecer nos filmes, o Rambo estava a lançar a famosa flecha com a granada agarrada – usou daquela fita-cola forte cinzenta, suponho –, em direcção a um helicóptero dos maus. Lá dentro, um piloto mal encarado esbugalha os olhos e grita um urro mudo qualquer que nós – espectadores – não percebemos, porque sabe que já não vai a tempo. Deve ter lido o script e, para mais, toda a gente sabe que o Rambo não falha. CABUM! Lá se vai mais um Apache para o galheiro!

O piloto do Apache do lado não hesita e lança-se em perseguição do Rambo. Vemos-lhe as mãos atarefadas nos comandos e o esgar sedento de vingança. Entretanto, estas coisas deram tempo ao Rambo e ao amigo de se esgueirarem para uma cova, que afinal – mostra-nos o realizador – dá para uma gruta que apareceu convenientemente por ali. O piloto apressa-se a largar uma carga de napalm para a entrada da gruta e só nessa altura é que o Rambo decide dar corda ao chinelo. Põe nos queixos aquela expressão de urgência masculina que lhe é tão típica (a recorrência destes trejeitos entre filmes ajudam-nos a perceber o que lhe vai na alma em cada cena) e larga numa correria desenfreada até se agarrar a uma corda também convenientemente pendurada para dentro da gruta pelo amigo.

Nisto o napalm escaqueira com tudo à superfície e ameaça envolver o Rambo numa nuvem de labaredas, o Rambo corre, a música fica cada vez mais perigosa, o Rambo com o queixo urgente cada vez mais ao lado, o amigo a chamá-lo, cada vez mais histérico, grande suspense… e, claro, o herói termina a fuga com uma cambalhota clássica, com a qual escapa às chamas sem mazela.

É nesta altura que me ocorre que 1) o Rambo é muito ingénuo; ou 2) o Rambo não cozinha. Então não é que o palerma vem para estas andanças em troco nu?!

Ainda no outro dia tive a ideia estúpida de saltear galinha em tronco nu. Nunca o faço nem costumo armar grande chavascal, mas havia de ser o dia de entornar azeitinho quente sobre a pele.

O resultado não foi o mais agradável e recordei a regra de ouro da cozinha: proteger sempre a pele das potenciais queimaduras. O Rambo devia saber do mesmo, uma vez que o seu trabalho consiste em andar por sítios inóspitos a estoirar tudo pelo caminho. O sacana anda a rebolar pelos cacos do Mundo e regressa ao quartel incólume, mas quando nos toca a nós, deixamos no ar o aroma a bacon flambé. E ainda insiste em enfrentar os inimigos de peitorais ao léu…

#36: A mini maratona de Lisboa e os quadríceps de São Pedro

A mini maratona de Lisboa aproxima-se e dei comigo a pensar se estará bom tempo no momento em que me fizer ao asfalto.

Por certo estará, ou não seja o S. Pedro um adepto do atletismo popular.

Desse pensamento nascido de lógica cristalina, imaginei como será a sua preparação para a prova deste ano.

Como tantos de nós, talvez corra com um amigo. Suponhamos que S. Francisco também tem a sua conta de 5Ks…

S. Pedro espera pelo amigo sentado num banco de pedra. S. Francisco caminha apressado e acena ao longe.

Francisco – Grande Pedro!

Pedro – Então, Xico! Tás bem?

F – Na boa. Atrasei-me, desculpa. Outra vez a gaita das evangelizações. Crashou-me outra a meio…

(CLAP! S. Pedro e S. Francisco chocam um sonoro bacalhau de manos.)

(HUÁ! S. Pedro e S. Francisco terminam com um belly-but, saltando enquanto chocam com as barrigas.)

F – Como é, badochinha?! A barriguita não pára? Chega de Bolicaos. A ideia da corridinha era manter a linha!

P – Tens razão, esta cena do toucinho do céu é uma perdição… Às vezes já nem é fome, é mesmo só gula.

F – Tás lindo, São…

Como qualquer corredor de rua, acabarão por trocar impressões sobre o equipamento. Em algum ponto da comunicação oral de dois indivíduos que partilhem um mesmo interesse, é inevitável que se abordem as questões de hardware.

F – Olha, tás a pensar levar que ténis?

Imagino o S. Pedro habitualmente trajado com sandálias romanas. As solas em couro e as tiras afiveladas não me parecem apropriadas para as agruras do trail ou a imprevisibilidade da calçada portuguesa.

P – Já troquei os Nike velhos. Encontrei uns para trail muito fixes: leves, imensa aderência e com umas cores bem alegres. Algo de bom teria de vir com esta panca revivalista pela tralha dos anos ’80…

F – A sério? Hás-de me dizer onde os compraste, no outro dia rebentei os pés. Havias de ver, uma merda. Não me posso esquecer de enfaixar os dedos.

P – Eu vou levar um elástico para a barba. Cheguei à conclusão de que é a melhor maneira de tirar a juba do caminho.

Nesse dia não correrão, passarão pelo café para lanchar uma torrada com pouca manteiga e uma meia de leite. Fogem à dieta, mas é tão difícil encontrar snacks pobres em gorduras e hidratos de carbono nas pastelarias de Lisboa…

P – Amanhã corremos?

F – Claro. Mas mais para o final do dia, que tem estado uma brasa… A subida ao pé dos pinheiros é que me lixa. Há dias em que chego lá acima já a pensar no bebedouro.

P – Devias ter cuidado com essas coisas. No outro dia vi um cão a beber de lá.

F – Não me lixes!

P – A sério, estavas a atar os ténis e não reparaste.

F – E não dizias nada??!!

P – Não me lembrei…

F – Porra. Às tantas tenho para aí uma parasitose qualquer e não sei.

O dia terminará com alongamentos, hidratação abundante e S. Pedro a escovar os Nike, entretanto empoeirados pelos trilhos do parque onde treinaram as pernas.

F – Bem, hoje foi fixe. Fizémos mais uma volta.

P – Yah. Mas estou de rastos. Ligo-te amanhã para irmos levantar os dorsais da corrida?

F – Sim. De caminho levas-me aos ténis.

E por aí fora. Correr na rua dá pano para mangas.

#34: Telemóveis, parte 2 – Verborreia monossilábica

Ainda na senda do tema dos telemóveis, apetece-me referir o extremo oposto: as pessoas que passam mais tempo a despedir-se do que a falar propriamente dito. Exemplifico:

– Tou?

– Sim.

– És tu?

– Sim. Olá fofinho!

– Olá amorzinho! Onde estás?

– Tou aqui.

– Ah. Olha, sobre o jantar…

– Diz.

– Tava a pensar naquele restaurante.

– Qual?

– O do toldo.

– Ah, acho óptimo! Adorei o esparguéti deles, lembras-te?

– Claro, por isso mesmo.

– Oh, tão querido!

– Vá, atão tá combinado. Vou ter contigo às oito.

– Tá.

– Beijinhos!

– Beijinhos!

– Até logo querida!

– Xau lindo…

– Adeus!

– Ah!

– Quê?

– Anh… deixa.

– Ok, beijo.

– Beijão!

– Bye bye!

– Beijinhos.

– Às oito.

– Sim.

– Inté!

– Jocas!

– Vou andado.

– Joquinhas…

– Coiso.

– …

– Agora é que é.

< plip >

< tu… tu… tu… >

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