Há pessoas que se estragam com o tempo.
Lembra-me o Ben-Hur, fulano musculado e bem intencionado, vítima de mal tipicamente português: a pequena inveja. Um colega de trabalho desenvolveu uma tendinite por causa de uma promoção e arranja-se maneira de o relegar para posição secundária no equivalente local da Transtejo. Anos volvidos de torturas e sofrimento, o rapaz regressa a casa apenas para encontrar mãe e irmã leprosas. Acabam todos por se libertar da doença por serem cristãos fervorosos e perseguidos. História tensa, que certamente nos faz tomar o partido de personagem tão sofrida. Done.
Deve ter refeito a vida, porque depois reaparece como presidente da National Rifle Association no documentário do Michael Moore, proferindo baboseiras entretecidas com argumentos a favor do direito de todo o americano a uma arma de fogo com que se confrontrar em novos faroestes urbanos. A besta! Como é que um gajo tão honrado se presta a estas coisas? Já tinha tomado tantas decisões difíceis, ninguém esperava a de se tornar um estafermo.
Recorda-me os jovens hippies que dançavam nus pelos direitos das baleias, mas que se tornam advogados de multinaicionais japonesas de pesca industrial ou gestores da BP. Mostra que convém deixar passar uns anos para testar a força e a honestidade de certas decisões. Mesmo para o Ben-Hur.