#45: Metáfora

Maya carrega sempre as suas compras no compartimento pequenino do carrinho do supermercado. Aquela cadeirinha onde sentamos os bebés, em que quase não se repara e que se tem de abrir para existir. Mas ela repara sempre. Nunca coloca o que quer que seja das suas compras no cesto grande do carrinho. Não sabe bem explicar mas, bem cheia, a parte pequenina transmite-lhe uma sensação de conforto. De controlo. De ter algo cheio. As compras todas soltas na imensidão do carro seriam enervantes, sugerindo baixinho que algo falta, algo ficou esquecido, algures na tua vida qualquer coisa está por acertar.

E Maya havia de passar pelo dia com aquela sensação com que ficamos nos momentos em que nos é devido um descanso, mas que se instala e nos sussurra que algo está errado por não estarmos preocupados ou tensos ou a correr atrás de algo. Como se estivéssemos em falta.

Já basta de pressões. Acha que tem mais em que pensar que nas compras que lhe dizem como organizar a vida. Por isso, traz o carrinho cheio, mas só em parte.

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