A mini maratona de Lisboa aproxima-se e dei comigo a pensar se estará bom tempo no momento em que me fizer ao asfalto.
Por certo estará, ou não seja o S. Pedro um adepto do atletismo popular.
Desse pensamento nascido de lógica cristalina, imaginei como será a sua preparação para a prova deste ano.
Como tantos de nós, talvez corra com um amigo. Suponhamos que S. Francisco também tem a sua conta de 5Ks…
S. Pedro espera pelo amigo sentado num banco de pedra. S. Francisco caminha apressado e acena ao longe.
Francisco – Grande Pedro!
Pedro – Então, Xico! Tás bem?
F – Na boa. Atrasei-me, desculpa. Outra vez a gaita das evangelizações. Crashou-me outra a meio…
(CLAP! S. Pedro e S. Francisco chocam um sonoro bacalhau de manos.)
(HUÁ! S. Pedro e S. Francisco terminam com um belly-but, saltando enquanto chocam com as barrigas.)
F – Como é, badochinha?! A barriguita não pára? Chega de Bolicaos. A ideia da corridinha era manter a linha!
P – Tens razão, esta cena do toucinho do céu é uma perdição… Às vezes já nem é fome, é mesmo só gula.
F – Tás lindo, São…
Como qualquer corredor de rua, acabarão por trocar impressões sobre o equipamento. Em algum ponto da comunicação oral de dois indivíduos que partilhem um mesmo interesse, é inevitável que se abordem as questões de hardware.
F – Olha, tás a pensar levar que ténis?
Imagino o S. Pedro habitualmente trajado com sandálias romanas. As solas em couro e as tiras afiveladas não me parecem apropriadas para as agruras do trail ou a imprevisibilidade da calçada portuguesa.
P – Já troquei os Nike velhos. Encontrei uns para trail muito fixes: leves, imensa aderência e com umas cores bem alegres. Algo de bom teria de vir com esta panca revivalista pela tralha dos anos ’80…
F – A sério? Hás-de me dizer onde os compraste, no outro dia rebentei os pés. Havias de ver, uma merda. Não me posso esquecer de enfaixar os dedos.
P – Eu vou levar um elástico para a barba. Cheguei à conclusão de que é a melhor maneira de tirar a juba do caminho.
Nesse dia não correrão, passarão pelo café para lanchar uma torrada com pouca manteiga e uma meia de leite. Fogem à dieta, mas é tão difícil encontrar snacks pobres em gorduras e hidratos de carbono nas pastelarias de Lisboa…
P – Amanhã corremos?
F – Claro. Mas mais para o final do dia, que tem estado uma brasa… A subida ao pé dos pinheiros é que me lixa. Há dias em que chego lá acima já a pensar no bebedouro.
P – Devias ter cuidado com essas coisas. No outro dia vi um cão a beber de lá.
F – Não me lixes!
P – A sério, estavas a atar os ténis e não reparaste.
F – E não dizias nada??!!
P – Não me lembrei…
F – Porra. Às tantas tenho para aí uma parasitose qualquer e não sei.
O dia terminará com alongamentos, hidratação abundante e S. Pedro a escovar os Nike, entretanto empoeirados pelos trilhos do parque onde treinaram as pernas.
F – Bem, hoje foi fixe. Fizémos mais uma volta.
P – Yah. Mas estou de rastos. Ligo-te amanhã para irmos levantar os dorsais da corrida?
F – Sim. De caminho levas-me aos ténis.
E por aí fora. Correr na rua dá pano para mangas.